Frágil. Como um cristal de açúcar.
Tão independente, confiante, guerreira.
Mas a cena transborda a poeira.
O estado do palhaço deixa cristalina a vulnerabilidade.
Será que vou me questionar até o fim da vida sobre a vala entre o que sei e o que sou?
A diretora cutuca a ferida que sempre traz o nó na garganta:
Too much.Way too much.
A grande virada na vida do intérprete se dá quando ele percebe que não precisa fazer força.
Esforço. Energia demais comunica de menos.
Pensamos em um palco de dimensões dantescas e já queremos ser mais.
Brasileiro já é de mais, mesmo sendo de menos.
Carrego no meu DNA artístico, nos padrões viciados do meu corpo sobrevivente, a herança do exagero.
Como atingir a plenitude cénica sem força?
Com trabalho.
Sentindo o nó da fragilidade se fazer, desfazer e refazer. Na garganta e nas vísceras.
Aceitando que o palco grita o que deseja. E que o intérprete é mero veículo.
Para atingir o estado de expressão que comunica o desejo além, há que haver o desapego. No mais delicado reside a potência.
Na despreocupação e no desprendimento encontramos o que somos.
Sem esforço algum.
Agora o trabalho se inicia.